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sábado, 24 de dezembro de 2016

Texto descomunal ou precisamos falar sobre dois mil e dezesseis


Desde pequena.
Eu me lembro de ter muito medo de enlouquecer desde pequena. Mais de um quarto de século se passou da existência de minha vida, a psicologia afirma que essa é a idade de risco qual a psicose acontece, mas ainda nada se manifestou em mim, creio. Mesmo depois de tudo, nada. Também me lembro que uma das primeiras lições que aprendi é que, em geral, as pessoas se espantam quando escutam falar sobre a morte e isso deve se dar porque tudo tudo tudo acaba um dia. Sem voltas ou rodeios. As coisas acabam.  
Eu não me perdoo por ter deixado minha plantação de feijão morrer quando eu era pequena, daí por diante não deixo que minhas palavras consigam morrer também e todas elas se acumulam no meu corpo como vestígios de doença. Sei lá, parece que eu fico masturbando meus pensamentos o tempo inteiro: sempre no mesmo movimento, nunca numa conclusão final. Quando estou feliz, penso em o quê fazer com a felicidade e, quando estou triste, em o quê fazer com a tristeza. Não chego a nenhuma conclusão em ambos casos e sigo obsessiva por pensar. Pensando, pensando...
Em dois mil e dezesseis, tive uma série de pensamentos que só descansaram quando outro pensamento novo substituía o antigo. Passei o ano todo repetindo para mim mesma que ficaria tudo bem, “ficará tudo bem”, fiz um milhão de planos B, C, D, E... nada adiantou, nada curou. A cura nunca fez curar. Um dos últimos pensamentos obsessivos que eu tive: a minha vida parece como outra versão da própria vida.
Às vezes penso que tudo isso é muito triste, porque de fato a gente vai se acabando até o ponto em que se esquece (nem se lembra de lembrar) e depois de um tempo “Olha como o tempo passou!”, nós vamos pensar. É estranho, triste, porém bonito: ainda existimos, mas acabou, morreu. Os pensamentos obsessivos são substituídos. As tristezas são substituídas. Agora nós somos apenas aquilo que já fomos um dia – isso não mudará.
É a hora?
Tem coisas que a gente tem que saber a hora de deixar morrer. Por mais que cause dor, pensamentos obsessivos ou que a gente nunca na vida se perdoe por isso (como quando a minha plantação de feijão morreu). Mas é que tem coisa que não apaga, não. Eu sinto que serei um estandarte de tudo o que vivi ad infinitum. Nessa minha vida que, agora, é outra versão. 
Tem tanta coisa aqui que nem cabe.
Tanto para falar.
E não importa que o assunto seja a morte, pois antes de tudo isso acontecer, em todos os dias que vivi, criei milhões de pretextos para querer morrer no dia seguinte, eu não me importaria. Depois de dois mil e dezesseis eu percebi que meus grotescos-pontos-de-vista sempre foram pequenos demais para eu ter tanta mágoa acumulada. Hoje eu escrevo para que as palavras possam morrer em paz, que as memórias (tão bem contornadas) possam morrer em paz, mesmo que escrever aqui e agora seja só uma história repetitiva que apenas espera um motivo minimalista que me faça encontrar libertação. E acho que, olha, pela primeira vez em todo esse tempo, posso dizer que por mim está tudo bem. Está tudo bem.