É típico de quem
sou: num dia desisto da ideia grotesca de um dia ser escritora e no outro eu me
arrisco à escrita. É uma briga interna. Nesse instante, exato e fixo, pareço
ter desaprendido de escrever as palavras que querem sair de mim, porém, exatamente
por mim, eu estou tentando... Escondida, aqui no meu cantinho, na casa que vivi
a maior parte da minha vida, pus-me a escrever um milhão de palavras para aliviar
meus medos e confiar que o futuro será melhor. Assim, bem simples. Uma vez, num
instante exato e fixo no passado, eu disse que morria de medo de perder
novamente as coisas bonitas que eu tinha na vida. E agora, com tudo voltando à
tona, imaginei mil acontecimentos terríveis, mal súbitos, mortes irreparáveis,
sangue saindo pelas vias aéreas das pessoas doentes e qualquer terror insano
que eu não posso falar para ninguém, pois ninguém entenderia. A não ser o Luis.
O Luis me entenderia. Mas há ainda muitos medos. Tenho tantos. Mas o que é a
vida, senão esses acontecimentos bruscos que trazem terror? Num dia está tudo
bem, há felicidade e esperança, e no outro, “puf”, as coisas se estragam. Ao
passo que, num dia estamos muito tristes e acontece algo feliz... mas me parece
que não há acontecimentos felizes o bastante para mudarem a tristeza. É preciso
tempo, recuperação e gasto de energia para atravessar a tristeza. A gente só se
recupera dos acontecimentos ruins, nunca dos felizes. Aí, em um dia, não tão de
repente assim, as coisas estão bem mais uma vez. Mas hoje? Bem, estamos todos atravessando. O tempo. Buscando recuperação. E gastando energia. E é
por isso que pus-me a escrever, porque sinto-me aprisionada em tantos pensamentos
que outrora, acredito, não terão mais efeito sobre o meu ser. Isso nunca me
havia feito tanto sentido como faz agora, pois não é de hoje que eu imagino tantas
coisas terríveis e as supero gradualmente, como um machucado sarando. Necessito
apenas que o tempo passe. Todos necessitam. A vida é uma travessia e eu, agora,
só espero ter palavras suficientes para atravessá-la.
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segunda-feira, 6 de abril de 2020
terça-feira, 16 de abril de 2019
Dentro da minha pele
Não
sei mais relativizar o sentir.
Talvez
eu nunca soubesse, de fato.
Mas
hoje, parece-me que o temor tomou proporções tão maiores,
foi
consumindo aqui dentro dos ossos,
corroendo,
como
um vírus,
uma
bactéria.
Eu
sigo.
Sigo
observando meus pés que já não andam mais descalços,
desde
quando?
Eu
também já nem sei.
Eu
sigo imaginando que alguém tenebroso me observa,
a
todo o momento,
de
dentro da minha casa, no quarto, enquanto durmo,
como
um fantasma imóvel à porta.
Eu
sigo.
Sigo
com o meu corpo mal sintonizado,
como
um rádio fora da estação,
um
corpo fechado, em que nada no mundo possa acessar.
Eu
evito.
Não
procuro nomes na agenda do celular por medo de arriscar conversar com alguém
e
não saber o que falar no segundo seguinte.
Eu
não vou mais à rodoviária.
Não
ando pelas ruas silenciosas e escuras.
Não
exponho meu modo.
E
ainda assim,
vivo
com um receio impregnado de encontrar os meus fantasmas
lá,
na
espreita,
esperando
apenas por um descuido meu.
E
eu choro, ainda.
Choro
em silêncio para ninguém escutar.
Passei
a noite inteira imaginando como seria morrer no instante seguinte,
por
conta da minha respiração fragmentada
e
dedos roxos pela falta de ar.
Eu
sigo, evito, choro.
Eu
preciso tanto de algo.
Um
algo sem-nome que bote fim nisso tudo,
preciso
tanto estancar essa coisa
que
dói
e
que também não tem nem nome,
preciso
de um antídoto
ou
qualquer coisa que me faça amar minha saúde
mais
do que o quanto eu quero estar longe daqui,
noutra
estação,
noutro
país,
noutro
corpo.
Então
eu calo.
Calo
porque escrevo.
Escrevo
porque tenho medo.
Calo
porque toda vez que falo, as palavras são tão mal escolhidas,
tão
mal interpretadas.
tão
sem dignidade...
Calo
porque eu não quero, mais uma vez,
ser
aquela pessoa no hospital,
que
me levou tanta coisa dessa vida.
E
a passagem do tempo só faz aumentar o quanto há de medo morando em mim.
E
ainda há tanto a falar,
sinto
que é inesgotável,
talvez
haja para sempre “o que falar”.
E
eu falaria.
Eu
falaria, se discasse algum número.
Falaria,
se
não fosse o medo me esperando na rodoviária
ou
parado à porta do quarto.
Fotografia de @alersonborgesfotografia.
sexta-feira, 10 de agosto de 2018
Manuel que dê-me licença poética
Queria não me significar
com o que é insignificante
e queria não viver
como se um segundo
fosse todo o tempo que importa.
Queria matar
a insegurança molhada
e plantar orégano
no jardim de grama falsa.
Queria não ter
que me equilibrar
nos segundos restantes
para ler um trecho de livro.
Queria que o ar parasse de me faltar.
Queria salvar minha desordem
aceitar a delicadeza
e queria não viver
como se um segundo
fosse todo o tempo que importa.
Queria matar
a insegurança molhada
e plantar orégano
no jardim de grama falsa.
Queria não ter
que me equilibrar
nos segundos restantes
para ler um trecho de livro.
Queria que o ar parasse de me faltar.
Queria salvar minha desordem
aceitar a delicadeza
(que insistem colocar em mim)
e o medo das palavras
não ditas.
Queria respirar para e por agradecer.
Queria respirar.
Mas a vida
e o medo das palavras
não ditas.
Queria respirar para e por agradecer.
Queria respirar.
Mas a vida
ah, ela é
é o meu tango argentino.
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