Não
sei mais relativizar o sentir.
Talvez
eu nunca soubesse, de fato.
Mas
hoje, parece-me que o temor tomou proporções tão maiores,
foi
consumindo aqui dentro dos ossos,
corroendo,
como
um vírus,
uma
bactéria.
Eu
sigo.
Sigo
observando meus pés que já não andam mais descalços,
desde
quando?
Eu
também já nem sei.
Eu
sigo imaginando que alguém tenebroso me observa,
a
todo o momento,
de
dentro da minha casa, no quarto, enquanto durmo,
como
um fantasma imóvel à porta.
Eu
sigo.
Sigo
com o meu corpo mal sintonizado,
como
um rádio fora da estação,
um
corpo fechado, em que nada no mundo possa acessar.
Eu
evito.
Não
procuro nomes na agenda do celular por medo de arriscar conversar com alguém
e
não saber o que falar no segundo seguinte.
Eu
não vou mais à rodoviária.
Não
ando pelas ruas silenciosas e escuras.
Não
exponho meu modo.
E
ainda assim,
vivo
com um receio impregnado de encontrar os meus fantasmas
lá,
na
espreita,
esperando
apenas por um descuido meu.
E
eu choro, ainda.
Choro
em silêncio para ninguém escutar.
Passei
a noite inteira imaginando como seria morrer no instante seguinte,
por
conta da minha respiração fragmentada
e
dedos roxos pela falta de ar.
Eu
sigo, evito, choro.
Eu
preciso tanto de algo.
Um
algo sem-nome que bote fim nisso tudo,
preciso
tanto estancar essa coisa
que
dói
e
que também não tem nem nome,
preciso
de um antídoto
ou
qualquer coisa que me faça amar minha saúde
mais
do que o quanto eu quero estar longe daqui,
noutra
estação,
noutro
país,
noutro
corpo.
Então
eu calo.
Calo
porque escrevo.
Escrevo
porque tenho medo.
Calo
porque toda vez que falo, as palavras são tão mal escolhidas,
tão
mal interpretadas.
tão
sem dignidade...
Calo
porque eu não quero, mais uma vez,
ser
aquela pessoa no hospital,
que
me levou tanta coisa dessa vida.
E
a passagem do tempo só faz aumentar o quanto há de medo morando em mim.
E
ainda há tanto a falar,
sinto
que é inesgotável,
talvez
haja para sempre “o que falar”.
E
eu falaria.
Eu
falaria, se discasse algum número.
Falaria,
se
não fosse o medo me esperando na rodoviária
ou
parado à porta do quarto.
Fotografia de @alersonborgesfotografia.