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terça-feira, 16 de abril de 2019

Dentro da minha pele



Não sei mais relativizar o sentir.
Talvez eu nunca soubesse, de fato.

Mas hoje, parece-me que o temor tomou proporções tão maiores,
foi consumindo aqui dentro dos ossos,
corroendo,
como um vírus,
uma bactéria.

Eu sigo.

Sigo observando meus pés que já não andam mais descalços,
desde quando?
Eu também já nem sei.
Eu sigo imaginando que alguém tenebroso me observa,
a todo o momento,
de dentro da minha casa, no quarto, enquanto durmo,
como um fantasma imóvel à porta.

Eu sigo.

Sigo com o meu corpo mal sintonizado,
como um rádio fora da estação,
um corpo fechado, em que nada no mundo possa acessar.

Eu evito.

Não procuro nomes na agenda do celular por medo de arriscar conversar com alguém
e não saber o que falar no segundo seguinte.
Eu não vou mais à rodoviária.
Não ando pelas ruas silenciosas e escuras.
Não exponho meu modo.
E ainda assim,
vivo com um receio impregnado de encontrar os meus fantasmas
lá,
na espreita,
esperando apenas por um descuido meu.

E eu choro, ainda.
Choro em silêncio para ninguém escutar.
Passei a noite inteira imaginando como seria morrer no instante seguinte,
por conta da minha respiração fragmentada
e dedos roxos pela falta de ar.

Eu sigo, evito, choro.

Eu preciso tanto de algo.
Um algo sem-nome que bote fim nisso tudo,
preciso tanto estancar essa coisa
que dói
e que também não tem nem nome,
preciso de um antídoto
ou qualquer coisa que me faça amar minha saúde
mais do que o quanto eu quero estar longe daqui,
noutra estação,
noutro país,
noutro corpo.

Então eu calo.
Calo porque escrevo.
Escrevo porque tenho medo.
Calo porque toda vez que falo, as palavras são tão mal escolhidas,
tão mal interpretadas.
tão sem dignidade...

Calo porque eu não quero, mais uma vez,
ser aquela pessoa no hospital,
que me levou tanta coisa dessa vida.
E a passagem do tempo só faz aumentar o quanto há de medo morando em mim.

E ainda há tanto a falar,
sinto que é inesgotável,
talvez haja para sempre “o que falar”.

E eu falaria.
Eu falaria, se discasse algum número.
Falaria,
se não fosse o medo me esperando na rodoviária
ou parado à porta do quarto. 


Fotografia de @alersonborgesfotografia.